Quando Chove por Dentro e por Fora

O dia amanheceu sem pressa, cinza, como se o céu tivesse decidido descansar sobre a cidade. Deitada na cama, deixei que o som da chuva preenchesse os espaços que as palavras não alcançam. O quarto inteiro se tornou uma espécie de abrigo líquido, onde cada pingar no telhado lembrava o compasso de um coração antigo.

Não havia urgência. O relógio parecia obedecer ao ritmo das gotas, e tudo ao redor se diluía em lentidão. A chuva caía como quem acaricia, e eu me percebia entregue a uma pausa rara: ouvir sem fazer nada, existir sem precisar provar nada.

É curioso como a chuva desperta memórias. Algumas vindas da infância  quando observar o cair das águas pela janela era espetáculo suficiente. Outras mais recentes, lembranças que a vida adulta geralmente empurra para um canto, mas que a música da água faz questão de trazer de volta.

Deitada, descobri que a chuva não fala apenas do lado de fora. Há uma chuva interior que escorre quando nos permitimos parar. Ela lava preocupações, suaviza feridas, rega silêncios. Talvez por isso tanta gente encontre paz nesses dias: não é só o céu que chora, é a alma que encontra um jeito de se purificar.

E assim permaneci: imóvel e desperta. Deixando que o som da água me dissesse aquilo que nenhuma voz ousa dizer  que a vida, às vezes, também precisa chover para florescer.

Beijo

Claudia Maria Duarte Parks