Quintal de Memórias

Fecho os olhos e volto. O chão úmido cheira a terra e a folhas molhadas, e o vento sussurra entre os galhos da mangueira. Sinto as mãos de um amigo segurando as minhas em corridas que pareciam intermináveis, e o riso que atravessava o quintal como uma melodia própria.

Na infância, cada gesto era aventura, cada olhar era promessa. Não havia pressa, apenas o compasso dos passos descalços, o bater das bicicletas no paralelepípedo, o sol que se escondia por entre nuvens de verão. Éramos pequenos arquitetos de mundos gigantes, construídos com gravetos, sonhos e risadas.

Mesmo agora, com ruas e cidades nos separando, a memória mantém intacta a textura da amizade. Posso quase tocar o calor de um abraço, ouvir a confissão sussurrada que parecia mais importante que qualquer segredo do mundo, sentir o peso leve da confiança que só a infância conhece.

Amigos de infância são presenças que o tempo não consegue apagar. Estão nos cantos da alma, em cheiros, cores, sons que despertam lembranças esquecidas. Eles nos mostram que, mesmo adultos, carregamos dentro de nós aquele quintal, aquelas corridas, aquela liberdade sem medidas.

E quando a vida se torna pesada, basta fechar os olhos. Deixar que a memória abra portas invisíveis, onde corremos descalços, rimos sem motivo e descobrimos que a amizade verdadeira nunca envelhece. Ela permanece, viva, pulsando no silêncio de tudo o que fomos e ainda somos.

Beijo

Claudia Maria Duarte Parks