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Era uma vez...

Havia uma estrela no mar... Uma estrela que havia caído no mar.

Há muitos, muitos anos, nas profundezas do vasto oceano, vivia uma pequena estrelinha do mar. Esta estrelinha era a mais curiosa de todas as criaturas marinhas, e seu coração brilhava com um desejo especial. Ela ansiava por conhecer o mundo acima das águas, especialmente o segredo mais bem guardado do oceano: o céu noturno, adornado com um manto de estrelas brilhantes.

Todas as noites, quando o sol se despedia no horizonte, a pequena estrelinha e seu pai, uma estrela do mar mais sábia e antiga, faziam uma jornada para a parte mais rasa da praia. Era um momento mágico, quando o mar acalmava suas ondas e revelava segredos da noite.

A estrela pai cuidadosamente segurava a estrelinha filho em seus braços, olhando para o vasto céu. "Hoje, meu filho”, começava o pai, "vamos observar o nascimento das estrelas do mar."

A estrelinha brilhava de empolgação, mal podendo esperar para ver as estrelas nascendo. Seus olhos cintilavam com curiosidade e alegria enquanto ele se aconchegava nos braços de seu pai.

O pai então começava a contar uma história, uma história que tinha sido passada de geração em geração, uma história sobre como as estrelas nasciam.

"Esta é a hora mágica, meu filho", dizia o pai, referindo-se ao momento em que as estrelas retornavam ao mar, para viverem como estrelas do mar. Era um ciclo sem fim, um mistério que encantava a jovem estrelinha.

Sim... Ele contava ao filho que quando uma estrela “caía”, era o momento raro de se observar o nascimento de mais uma estrelinha no mar.

“Mas se as estrelas vêm do céu, então como é que elas chegam lá?”, perguntava a jovem estrelinha ao seu pai.

O pai apenas respondia que um anjo a contaria no momento certo e que, enquanto isso, era preciso viver, explorar e entender, em sua medida, sobre a própria existência, para, por fim, no “momento dos anjos”, poder ser conduzida aos mistérios que separava o reino das estrelas do mar do reino das estrelas brilhantes.

“Então todas essas estrelas que eu vejo estão esperando lá no céu para poderem descer?”, perguntava ao pai. “Sim”, respondeu, “mas tudo tem seu tempo certo”.

Os fins de tarde eram assim... Habitualmente assim. O pai apenas alertava o filho sobre o cuidado que deveria ter ao ficar muito exposto em águas rasas para, assim, evitar os impiedosos predadores.

Certo dia, entretanto, o pai da estrelinha desapareceu e isso decepcionou e entristeceu a jovem estrela que procurou, aqui e ali, mas não encontrou sequer qualquer rastro do seu pai.

Até que, em uma conversa com outra experiente estrela, ela lhe disse que, possivelmente, seu pai havia subido ao reino do céu estrelado e a estrelinha chorou de tristeza porque não poderia mais saber quem era seu pai no meio de tantas estrelas. A estrelinha sentia saudade do seu pai e da sua confortante companhia.

A estrela experiente lhe disse para seguir em frente com aquilo o que havia aprendido com o pai e, no momento certo, quem sabe, o veria como uma estrela cadente, descendo do céu para novamente encontrá-lo.

A estrelinha, obcecada e tomada pela tristeza, passou a observar o céu, noite após noite, esperando que seu pai novamente descesse de lá para poder encontrá-la e acalentar a sua saudade, mas, simplesmente, dentre todas as estrelas que caíam em direção ao mar, nenhuma delas parecia ser seu pai.

Até que um dia, ansiosa, a estrelinha acaba cometendo o erro que seu pai sempre falou para evitar: ela vai até o raso, se posiciona sobre uma pedra para poder ver melhor o cair das estrelas. A estrelinha estava determinada a encontrar seu pai e, decidida, se arriscaria para poder vê-las melhor.

Eis que, antes do sol se pôr, uma gaivota se posiciona em uma outra pedra próxima da estrelinha. A estrelinha, entretanto, estava coberta por uma fina camada de oceano que a protegia e, assim, estrela e gaivota começam a travar um diálogo: “O que uma estrelinha, bonita como você, faz por aqui, tão desprotegida?”, perguntou a gaivota.

A estrelinha, então, começou a narrar sua jornada, o súbito desaparecimento de seu pai e a razão pela qual havia chegado tão cedo àquele lugar. A gaivota, embora achasse a história um tanto ingênua, continuou ouvindo — talvez por um impulso de afeto, ou quem sabe por um instinto mais profundo que nem ela mesma compreendia.

Focada em seu objetivo, a estrelinha parecia não compreender plenamente o que se desenhava ao seu redor — alheia ao perigo de estar tão exposta, justamente à condição da qual seu pai sempre a prevenira.

“Conte... Conte mais”, dizia a gaivota cada vez mais próxima, enquanto a maré baixava. “Tenho certeza de que quanto menos água tiver sobre mim, com mais nitidez poderei ver as estrelas cadentes e assim, reconhecer meu pai quando ele cair novamente no mar”, disse a estrelinha.

“Você está certa, estrelinha... Você está certa. Ficarei aqui para vigiar e evitar que qualquer mal aconteça com você. Mas... diga-me: o que mais seu pai contou sobre as estrelas... Como é que ele foi parar lá no céu?”, perguntou-lhe a gaivota. “Eu também não sei, dona gaivota... Ele disse que eu descobriria no momento certo.

“Pois esse é o seu dia de sorte, estrelinha do mar, pois, olhe para mim: sou aquela que pode te mostrar como isso acontece. Está vendo essas asas? Pois bem, são exatamente elas que carregam as estrelas para o céu novamente”.

A gaivota, então, saltou da pedra, abriu suas asas e rodopiou no céu graciosamente, pairando por um momento numa corrente de ar repentina e retornando para próximo da estrelinha que a olhou encantada e fascinada pelo que acabara de ver.

“Então você é o anjo o qual meu pai tanto dizia?”, perguntou. “Sim, estrelinha... e posso dizer que seu pai está lá ainda, esperando para um dia retornar. Fui eu quem o levou, mas seu tempo de retornar se dará quando as areias do tempo lhe permitirem”. “E você poderia me levar até ele? Apenas para eu poder matar a minha saudade por um breve momento enquanto ele não retorna?”, perguntou impaciente.

“Sim, estrelinha... Se você desejar com todo o seu coração, posso te levar ao céu, para visitar o reino onde todas as estrelas brilham”. “Sim, sim... eu quero, dona gaivota... finalmente eu desvendei o mistério. Diga-me o que fazer...”. “Você já está quase pronta, minha pequena estrela”, disse a gaivota.

“Olha só!”, exclamou a estrelinha, extasiada e deslumbrada. “Agora consigo ver muitas estrelas cadentes, dona gaivota!” — enquanto, sem perceber, a maré a deixava por completo.

A água havia recuado o suficiente para expor todo o seu corpo e, desprotegida, sem o véu salgado que antes a envolvia, ela pôde enfim contemplar — com olhos limpos — toda a grandiosidade do céu estrelado, em sua beleza crua e arrebatadora.

A gaivota, então, saltou para perto da estrelinha indefesa e pronunciou: “Você está pronta, amiguinha... Está pronta para adentrar o ciclo das estrelas. Apenas feche seus olhos e eu te conduzirei para o reino das estrelas brilhantes e lá você encontrará seu pai. Apenas siga o brilho da estrela mais brilhante e essa será, sem dúvidas, o seu pai”.

A gaivota, então, tomou a estrelinha na ponta do seu bico e se lançou num gracioso voo, desaparecendo como uma nuvem entre nuvens, rumo ao reino das estrelas, que se espalhavam em miríades sob o manto negro do céu.

FIM.